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Bioplastia: os perigos do PMMA, metacril, hidrogel e outras substâncias

Toda cirurgia plástica exige cautela e cuidados especiais. Afinal, nem todos os procedimentos estéticos são seguros. É o caso da bioplastia. Veja os perigos!

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Bioplastia: os perigos da cirurgia plástica

Você já deve ter se deparado com imagens de antes e depois de pessoas que aplicaram substâncias para definir, moldar ou tentar “corrigir” alguma coisa no corpo. Mas você sabe a diferença entre esses procedimentos? Quais são essas substâncias usadas? A bioplastia é a intervenção mais controversa de todas e vamos te explicar o porquê tomar cuidado com isso.

De acordo com pesquisa divulgada pela ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), em 2018, o Brasil registrou mais de 1 milhão de cirurgias plásticas. Além disso, 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos. Com isso, em 2018, o Brasil conquistou a liderança em cirurgias plásticas no mundo. Em 2021, segue na primeira posição.

Assim, a bioplastia se une a esse reforço negativo. Mas não pelos números contabilizados, devido a quantidade de subnotificações desses procedimentos. Ela consiste na aplicação da substância PMMA (polimetilmetacrilato), também apelidado de metacril. É um material usado para preencher os tecidos, gerando mais volume e modificando a forma da área aplicada.  

Preenchedores como o PMMA ficam no organismo e não são absorvidos

O PMMA é um preenchedor sintético feito de microesferas, similar ao plástico acrílico. Imagina jogar super bonder numa esponja de cozinha? É mais ou menos assim que o produto entra no corpo. Por isso, se precisar tirar, por qualquer infecção, nódulo ou necrose, não tem como fazer essa remoção sem perder uma parte de tecido, do músculo. Enfim, sem que você perca uma parte do seu corpo.

O procedimento foi inicialmente desenvolvido pelo médico brasileiro Almir Nácul. O público eram pacientes com HIV/AIDS que sofriam com perda de gordura excessiva na face. Assim, buscava recuperar a autoestima dos pacientes que tiveram seus rostos deformados pela doença. O uso para esses fins ainda é considerado possível pela medicina.

No entanto, o método carrega má fama e é controverso. Em matéria da Folha de São Paulo, repostada no site oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia, entende-se que é preciso ter cautela. “De acordo com a Anvisa, o PMMA pode ser usado em procedimentos estéticos para corrigir rugas e restaurar pequenos volumes perdidos de tecidos com o envelhecimento. Mas nem a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) nem a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) recomendam o uso do produto para fins estéticos. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), quando usado em grandes quantidades, o PMMA não é seguro, tem resultados imprevisíveis a longo prazo e pode causar reações incuráveis, como inflamações, nódulos, necrose e até a morte.”

Complicações da bioplastia: Wesley Murakami, suas dezenas de vítimas e outros casos 

O ex-cirurgião plástico Wesley Murakami foi preso, em dezembro de 2018, após deformar pacientes com aplicações. Ele recebeu 15 denúncias no estado de Goiás e, de acordo com dados da época, quase 30 vítimas foram prejudicadas. No mesmo ano, uma jovem se matou após ter feito o procedimento com ele. Wesley foi solto em janeiro de 2019 e o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) impediu Murakami de exercer a profissão.

Infelizmente, casos como esses seguem acontecendo. No Instagram, perfis tentam alertar os perigos das aplicações e seus danos irreversíveis. Diversas pessoas mandam seus relatos, fotos e vídeos denunciando as práticas e as lesões sofridas. As imagens, na maioria dos casos, são fortes e não recomendadas para pessoas muito sensíveis.

Os acontecimentos não ficam restritos a pessoas anônimas. A atriz sueca Britt Ekland, de 78 anos, por exemplo, sofreu por 20 anos com aplicações de corticóides para conter o processo inflamatório decorrente de preenchimento labial com PMMA. A cantora mexicana Alejandra Guzmán precisou passar por 29 cirurgias reparadoras após ter feito preenchimento nas nádegas com PMMA em 2009. 

Andressa Urach e bioplastia: 22 cirurgias, coma e seu renascimento

A ex-modelo Andressa Urach quase morreu por conta das aplicações de hidrogel e PMMA nas coxas, entre 2014 e 2015. O problema é que tanto o hidrogel quanto o PMMA se parecem. No entanto, o hidrogel tem uma proporção de 98% de água e teoricamente é absorvido pelo corpo. Mas não foi o que aconteceu com ela e começou a machucar o local. Em seguida, ela descobriu que o PMMA estava grudado no músculo e os tecidos necrosaram. 

Em setembro de 2020, Andressa fez um relato emocionante em sua página do Instagram, alertando sobre os perigos do procedimento.

“Serei sempre grata a Deus e aos médicos, que um dia ajudaram a salvar a minha vida! Foram 22 cirurgias para a retirada do hidrogel. Infelizmente o PMMA (bioplastia) não sai e é pior que o hidrogel […]. O resultado não vale o risco, pois na maioria dos casos há formação de nódulos, enrijecimento da região, infecção, alergias, dor crônica, rejeição do organismo e até necrose do tecido. […]. O pior de tudo é que se houver arrependimento e o desejo de retirada do produto, nem sempre é possível, pois o risco de morte é altíssimo. Foi em umas dessas tentativas que eu cheguei à sepse e fiquei em coma. Minha maior recomendação hoje é: não aplique essas substâncias no corpo!”

Cuidado com o seu corpo: não existem soluções imediatas para questões complexas

Por isso, todo cuidado é pouco quando estamos colocando em risco nossa saúde e nossa vida. Apesar de tentadoras, intervenções como essas possuem um alto preço a se pagar. E não estamos falando apenas de custos financeiros! Se for do seu desejo mudar qualquer coisa em você, acolha sua vontade e busque profissionais certificados, éticos e comprometidos com a transparência nas informações. 

Certifique-se que qualquer produto que entre no seu corpo possui registro comprovado. Pesquise referências, leia relatos e não se deixe enganar pela falsa sensação de resolver uma questão estética de forma imediata. Esteja atenta às suas escolhas, entendendo que o amor-próprio e o autocuidado fazem parte também de um olhar responsável sobre si mesma.

Foto de capa: Pexels

Redação Corpo Livre

Somos uma equipe de profissionais e colaboradores empenhados em transformar através da informação e da diversidade. Enquanto veículo, queremos construir uma nova forma de dialogar na internet sobre Corpo Livre!

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