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Você continua a mesma depois de 10 anos?

A vida é complexa e cheia de felicidades. Não se resume a uma lista de resoluções de Ano Novo (emagrecer, ficar rica e casar). Leia a coluna de Bianca Barroca!

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Você continua a mesma pessoa em 10 anos?

Já faz 10 anos que não tenho 17 anos. Estou mais perto dos 30 do que dos 20 e não tem caminho de volta. O tempo não volta é uma constatação óbvia pra meros mortais, mas para cancerianos isso é um filme de terror. Sofrimento nostálgico é meu travesseiro mais confortável antes de dormir. Você continua a mesma depois de 10 anos?

Eu fui criada numa cidade pequena da Baixada Santista, Peruíbe. Terra de praias, cachoeiras e alienígenas. Onde pessoas vão trabalhar de bicicleta originalmente, antes dos hipsters gourmetizarem a prática. 

Sai de Peruíbe com 17 anos em busca de empregos na Paulista, acesso a cinema com filmes atuais, shows de bandas que eu gostava. No entanto, acabei conquistando muito mais do que imaginei que conseguiria um dia. Uma graduação em Direito, trabalhos em multinacionais, voluntariado fora do país, aprendi até a comer usando hashi. Chique demais.

A Bianca do passado veria todas essas vitórias, mas também se sentiria decepcionada por eu não estar magra, sem casa própria e sem ao menos saber dirigir. Decepcionada até com a minha decisão de sair de São Paulo e voltar para Peruíbe depois de 10 anos. 

Eu tinha uma visão de sucesso muito diferente que tenho hoje. E minha perspectiva foi mudando e se adaptando conforme as minhas prioridades mudavam. Se eu não sou a mesma pessoa de antes, então por que preciso me apegar as metas passadas? A kitnet que eu imaginei no centro de São Paulo, hoje eu me veria aprisionada. Da mesma forma que todas as dietas malucas e simpatias pra emagrecer me adoeciam, me limitavam.

Eu não tenho interesse em conquistar admiração dos outros com base num corpo magro. Também aprendi que uma casa própria não se conquista facilmente. Superei o fato de que dirigir talvez não seja o meu talento (talvez um dia seja, mas daí eu deixo essa meta pra Bianca de 28 anos).

Eu preciso da paciência e da gentileza em aceitar as minhas falhas, assim como trabalhar para melhorar e reconhecer tudo que alcancei. Porque em muitos momentos eu só tenho vergonha de não conseguir e vergonha de me gabar sobre o que consegui. Em suma, tenho tido um certo trabalho em me orgulhar (mais uma pra Bianca de 28).

edit: Agora relendo isso estou com uma visão muito diferente e muito orgulhosa de tudo que conquistei e de quem eu sou. Auto estima é uma parada de altos e baixos mesmo hahaha.

Eu aceitei que sou adulta e que tenho responsabilidades. E ferramentas pra cumprir com elas. Nesse caminho eu vou tropeçar, suar. Desistir é um privilégio de quem nasce em berço de ouro. A minha única opção é conseguir.

Bianca Barroca

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