Mundo
Morte de Marília Mendonça reacende debate sobre gordofobia
A morte de Marília Mendonça, referência da música sertaneja, comoveu o Brasil inteiro. No entanto, a tragédia também trouxe à tona a gordofobia. Entenda!
Marília Mendonça foi um dos maiores fenômenos da música brasileira. Além disso, ela se tornou referência para tantas mulheres protagonistas de suas próprias vidas. Aos 26 anos, a eterna Rainha da Sofrência teve sua vida interrompida diante de um trágico acidente de avião, em Minas Gerais. Assim, deixou uma legião de fãs em um luto sem dia e hora para acabar.
Antes de tudo, Marília Mendonça impactou com suas letras inspiradoras e carregadas de verdades. Mas, infelizmente, a vigilância sobre o seu corpo não descansou nem no dia de sua morte. Isso porque, desde o dia 5 de novembro, data do acidente, o machismo e a gordofobia apareceram de forma descarada. Além de Luciano Huck e Ana Maria Braga, os jornais “Folha de S. Paulo” e “Extra” renderam comentários sobre a aparência física da artista e sugeriram que o talento vocal dela estava atrelado ao seu emagrecimento. Veja!
Colunista da Folha critica talento e estética de Marília Mendonça após morte
A princípio, as polêmicas foram provocadas a partir de um artigo publicado pelo historiador Gustavo Alonso, do jornal “Folha de S. Paulo”. Enquanto recapitulava sua trajetória, o colunista disse que Marília Mendonça “nunca foi uma excelente cantora” e que “seu visual também não era dos mais atraentes para o mercado da música sertaneja”.
Em seguida, afirmou que “Marília Mendonça era gordinha e brigava com a balança. Mais recentemente, durante a quarentena, vinha fazendo um regime radical que tinha surpreendido a muitos. Ela se tornava também bela para o mercado”. Isso foi o bastante para ser criticado e levantar debate nas redes sociais.
Em momento sensível para todo o Brasil, Folha de São Paulo retrata Marília Mendonça de maneira desrespeitosa em matéria sobre sua trajetória. pic.twitter.com/Ed9olJc06O
— UpdateChart (@updatechartuc) November 6, 2021
Logo depois, o jornal “Extra” também publicou matérias com títulos sensacionalistas e machistas após a morte da cantora. “Preocupada com a saúde, Marília Mendonça passou por duas transformações físicas”, dizia uma das chamadas. “Marília Mendonça disse em entrevista que tinha ‘mais medo de ser traída do que morrer”, intitulou em outra pauta.
MEU DEUS!! Que jornalismo é esse que que anuncia a morte de uma artista como forma de entretenimento
— ꈤꀎꈤꍟꌗ (@itsfelipenunes) November 5, 2021
Jornal Extra respeite a história e a dor da família da Marília Mendonça pic.twitter.com/324UpmyRdn
Luciano Huck fala de emagrecimento em tributo à Marília Mendonça
E não parou por aí! Durante tributo à Marília Mendonça no “Domingão”, Luciano Huck gerou revolta ao falar sobre o peso da cantora e da dupla Maiara e Maraísa. Isso porque o apresentador fez um comentário gordofóbico ao recordar a participação das Patroas no dominical há poucas semanas.
“Estava lembrando agora. Faz três semanas que eu estava com as três no palco. Três semanas. Na verdade, vieram só metade das três no palco, porque estavam as três magrinhas”, disse Huck.
Do mais absoluto nada, Luciano Huck, no tributo que organizou para Marília Mendonça, lembra da participação dela, Maiara e Maraísa no #Domingão há três semanas, e fala desnecessariamente sobre o peso delas: “na verdade tava só com a metade das três no palco, elas tava magrinhas”. pic.twitter.com/1h79kxHzes
— É o Assunto 📺🖤 (@EoAssunto_) November 7, 2021
Além disso, durante o “Mais Você” desta segunda-feira (8), a apresentadora Ana Maria Braga sugeriu que o talento vocal da artista estava ligado ao seu emagrecimento ao longo dos anos.
“Quem diria, né? A vida realmente é uma coisa inesperada. A gente sabe que nasce, mas nunca sabe quando vai embora (…) Ela fez tanto pra chegar nesse shape lindo, físico, né? Ela emagreceu, criando um caminho para ela, que fazia sentido, com esse vozeirão”, comentou.
“A mulher pode ser o que ela quiser”, disse Marília Mendonça
Por que tratar Marília Mendonça de forma tão desrespeitosa? A verdade é que ela foi muito mais do que qualquer pressão estética. A intérprete de “Eu sei de Cor” trouxe em suas composições a superação de um relacionamento abusivo, incentivo à autoestima e criticou tantas vezes o padrão de beleza imposto pela sociedade. E o mais importante: ela levantou a bandeira de que a mulher pode ser, sim, o que ela quiser.
Além disso, a artista também se posicionou contra o atual governo e fez parte do movimento #Elenão. “A gente não precisa desse retrocesso, eu sou uma mulher que batalhei bastante junto com outras mulheres dentro do sertanejo para quebrar todo o tipo de preconceito dentro de um mercado completamente machista”, disse pelas redes sociais.
Freio no machismo, feminista do mundo real, sem rodeios e livre de preconceito. Você virou saudades, Marília Mendonça!
Foto de capa: Reprodução Instagram / @mariliamendoncacantora