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De garimpeira a empresária: “Hoje, me vejo fazendo algo com propósito”

Dos passeios com a afilhada por São Paulo, nasceu a marca de bijus plus size Fofura Pimenta. Conheça a história da empresária Márcia Gattai.

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De garimpeira a empresária

Há 13 anos, a história se repete. Sempre igual, sempre muito amor. Férias escolares são sinônimo da vinda da minha afilhada, a Fofura, pra São Paulo, onde moro. Assim, temos uma tradição de passeios a cumprir: cinema, shopping, compras e atividades culturais – eu, ela e meu amor/marido, nos divertimos por vários dias.  

O primeiro destino é sempre o garimpo e (muita) compra de bijuterias. Muitas horas usadas pra olhar, experimentar e comprar bijus, eu e ela. Em seguida, o marido chega na segunda etapa, o almoço. E, por fim, nós três partimos pras últimas compras. Essas três fases se repetem no mínimo duas vezes ao ano, desde os 13 anos dela (hoje ela tem 26). Além disso e de muitos momentos felizes, nossa tradição me trouxe uma nova direção profissional, há cinco anos.

Demitida do cargo de professora de uma das maiores universidades de São Paulo, após 15 anos em sala de aula, estava exausta por conta da jornada de trabalho intensa. Por isso, descansei uns meses. Fiquei em casa sem trabalhar, nem procurar emprego. Passeios e compras foram levando embora todo o dinheiro recebido na rescisão. Dinheiro gasto sem culpa ou cautela. Como se não houvesse um amanhã.  Mas o amanhã chegou. E o dinheiro tinha acabado. 

Então bora procurar emprego. Encontrado. Em dois institutos de pesquisa – um mês em um, seis no outro. Empregos que amigos e parentes “aprovavam”. Era o que esperavam de mim. Mas esses sete meses foram suficientes pra perceber que trabalhar na área de formação acadêmica (socióloga e cientista política) não era o que eu queria. Estava infeliz, muito. Pensei bastante. Por isso, pedi demissão. Foi uma das poucas vezes que tomei uma decisão com base só no que eu, Márcia, queria. Não no que esperavam de mim.

Aos 51 anos, fui empreender. Nasceu a Fofura Pimenta, minha marca de bijuterias plus size. Nome dado em homenagem à afilhada (lá do inicio desse texto), unindo dois apelidos dela. Iniciei com muita paixão por garimpar bijuterias, e igual inexperiência nos negócios. Por isso, óbvio que não ganhei dinheiro, no início. Dava de presente muito mais produtos do que vendia.

Me perdia no Instagram. Eram horas e horas admirando fotos lindas de moda e das blogueiras. No entanto, numa dessas viagens pela rede social, as portas do mundo plus size se abriram. Não sabia da existência de blogueiras e influencers plus size, nem conhecia as pessoas do meio. Minha loja, indicada por uma blogueira famosa no meio, recebeu muitos pedidos de anel, em tamanhos grandes. Assim, a ideia de mudar os produtos da Fofura, pra passar a atender exclusivamente mulheres gordas, surgiu quando percebi a demanda.

No entanto, consultar amigas e parentes de início me desanimou. Em coro, diziam que uma marca de bijus plus size afastaria as “boas clientes”, as magras (aff!). Mas, decidida a fazer tudo do meu jeito, desta vez, fui adiante. Era uma segunda oportunidade pro meu empreendimento se tornar lucrativo.

Óbvio que não fiquei rica nos primeiros meses. Além disso, nem tive muito tempo livre, como pensam alguns empreendedores inexperientes. Começar um negócio sem conhecimento ou experiência é muito desafiador. Fui aprendendo no processo, errando e consertando. Na raça mesmo.

Por isso, me dediquei muito. Como nunca havia feito na vida. Me motivava (e ainda motiva) ver que, mais que um negócio, a marca de bijus plus size era também uma questão de acesso e representatividade. Mulheres com dedos, pescoços e punhos grandes passaram a poder usar acessórios que antes não existiam no mercado. 

Dois anos depois, montei também um brechó plus size. Em seguida, uma loja. E, com o tempo, passei a oferecer consultoria e mentoria pra mulheres que também querem ter um negócio. Hoje, aos 56 anos, me vejo fazendo algo com propósito, com sentido. Realmente feliz no trabalho. 

E é sobre empreender, envelhecer, mudar de rumo, “causos”, piras, e “otras cositas más” que vamos conversar por aqui, a partir de hoje. Bora comigo?

Foto de capa: Acervo pessoal

Márcia Gattai

Intrometida, empresária, socióloga e praieira. Criei a 1a marca de bijuterias plus size do país, a Fofura Pimenta. Aqui vamos conversar sobre gordofobia, empreendedorismo e coisa e tal. Ah, sol na laje também. Bora!

Intrometida, empresária, socióloga e praieira. Criei a 1a marca de bijuterias plus size do país, a Fofura Pimenta. Aqui vamos conversar sobre gordofobia, empreendedorismo e coisa e tal. Ah, sol na laje também. Bora!

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